"Nunca precisei de um homem para me bancar", afirma 1ª Miss Brasil de MT

18/07/2019

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Quinta-Feira, 18 de Julho de 2019, 14h:29


Carioca, Marcia Gabrielle conta como foi a vida após concurso de 85 e relata como superou o machismo. Foto Mirella Duarte


Rodinei Crescêncio/Arte/Rdnews


Uma moça que sequer era considerada a mais bonita na escola e fez com que um "pé na bunda" te impulsionasse muito mais longe do que sempre imaginou: entre as dez mulheres mais lindas do Miss Universo de 1985. O carisma da carioca da gema Márcia fez com que ela conquistasse, por um lado, a simpatia de muita gente. Por outro, que fosse alvo de inúmeras manchetes de jornal com polêmicas que até hoje ela julga como maldosas, vindas de quem se incomoda com seu brilho. Entre as vezes que foi noticiada em um famoso jornal de São Paulo, após aparecer com políticos da época, acusaram o Miss Brasil em que a elegeu como fraudado. O que ela nega, além de revelar o cunho preconceituoso das manchetes, definindo como machismo e preconceito da época. Sem ter medo do tempo, ela acredita que aproveitou bem as três décadas no mundo de miss, além da carreira de modelo e como atriz em um recém lançado videoclipe, que aparece como uma mulher forte e sedutora. A atitude rock star da primeira Miss Brasil que representou Mato Grosso não a inibe de ter samba no pé. Desfilou como destaque na Escola Beija-Flor e revela que foi convidada inúmeras vezes para posar na Playboy, mas que diferente do que dizem, ela nunca aceitou. Em entrevista, ela comenta que nasceu em uma comunidade e sabe bem o que é começar a vida do zero e, apesar disso, jamais desistiu dos seus sonhos. Em um trecho revela que não nega sua origem e nem temperamento forte, se preciso for, para defender sua índole e honestidade. Descreve, não é uma pessoa de barraco, mas a favela inteira.


Confira os melhores trechos da entrevista:


Antes de se inscrever no Miss Mato Grosso, em 1985, você já tinha uma carreira de modelo ou já sonhava concorrer a esse título?


As pessoas falam que eu tinha a carreira de modelo porque um dos meus primeiros trabalhos foi em uma agência de Cuiabá, quando eu tinha 17 anos. Eu não tinha nenhuma intenção de ser modelo, mas eu estava noiva e iria me casar. Levei um pé na bunda e decidi que aquilo iria me levar pra frente, sobreviver a essa desilusão e esfregar na cara desse cara que eu daria a volta por cima. As portas foram se abrindo pelo meu desejo e merecimento.


Você nasceu e foi criada no bairro de Bonsucesso, no RJ. Como surgiu a oportunidade de concorrer ao título em MT?


Nasci em uma comunidade, sei bem o que é passar dificuldade, ter sonhos e não ter condições para isso ou não saber como a vida vai te proporcionar isso. Estudei em escola pública, tudo meu sempre foi simples. Na mesma época, então, participei e ganhei um concurso no Rio de Janeiro, chamado Garota Rio e Garota da Cidade, e um colunista de Mato Grosso do Sul viu e me levou pra fazer um desfile em uma feijoada dele naquele Estado. Nesse evento tinha alguém de Mato Grosso que pediu para eu gravar um vídeo para a seleção de um comercial da Prefeitura de Cuiabá. Fui para a cidade e gravando em uma dessas praças me viram e também me chamaram para concorrer ao concurso de miss, mas daí eu disse que não era cuiabana. Naquela época você tinha que morar pelo menos seis meses antes. Nesse meio tempo, voltei para o Rio e não sabia se largaria tudo da minha vida para ir morar em Mato Grosso e concorrer. Eu tinha meu primeiro amor, ainda estava sofrendo, mas quando retornei também peguei ele aos beijos com outra em uma boate.


Qual era sua ligação com o estado na época? Você ficou entre as 10 mulheres mais bonitas no Miss Universo. O que faltou para sair de lá com a coroa?


Nunca imaginei que eu fosse me classificar no concurso de miss, mas me desclassificaram do Miss Cuiabá, exatamente por acreditarem em alguma coisa que tava armada. Não tinha, pelo menos até ali e por tudo que vi, o concurso era idôneo. Quando eu faço júri nesses eventos hoje em dia, vejo a honestidade, ninguém nunca me pediu para votar em ninguém. Quando entrei na competição de Barão de Melgaço era outra organização e eu consegui ganhar. Eu nem queria mais participar, mas fui e ganhei. Depois de ganhar o Miss Mato Grosso, fui para o Miss Brasil e consegui trazer a coroa para o Estado. Além disso, eu também já tinha ganho o segundo lugar no Miss Sul América e também o segundo lugar do Reinado de Las Flores, e ganhei um concurso na Colômbia, o primeiro lugar em um concurso muito famoso chamado Rainha Internacional do Café, quer dizer, foi um concurso atrás do outro. Eu já estava exausta, era muita competição. Por isso, no Miss Universo, faltando dez dias para acabar, eu perdi a mão.


Você chegou a ser envolvida na acusação de que o Estado havia comprado o Miss Brasil. Como foi essa história e como se sentiu na época?


Fiquei muito mal na época. Me viram saindo de uma agenda oficial, enquanto miss, e escreveram isso na capa de um jornal em letras garrafais. Sempre foi comum agenda com político. O Miss Universo, por exemplo, era um concurso do Donald Trump, que hoje é presidente dos Estados Unidos. É, e sempre foi tudo relacionado. Uma mulher que ganha um concurso desses, ganha para representar o país. Ela tem um trabalho social que abre portas. Já fiz muitas campanhas humanitárias, como de prevenção do glaucoma, hospital do câncer. Toda miss precisa ter uma mensagem. Logo após esse ocorrido comecei a namorar um cuiabano. Não posso falar o nome, porque agora ele está casado, tem dez mil filhos, e é uma pessoa conhecida na cidade. Ele quem me fez superar aquele primeiro pé na bunda e outras coisas que passei, vi que apesar de tudo a vida continuava.


 




Julio Campos, então governador, recebe Marcia Gabrielle, que havia ganhado o Miss Brasil, se tornando a primeira Miss MT a ganhar o concurso.Meneguini/Secom-MT


Semana passada uma foto sua com o então governador de MT Júlio Campos voltou a circular na mídia. Você lembra desse encontro e era comum agendas com políticos?


Nessa foto foi uma agenda oficial e eu também fui recebida enquanto miss, mas se não me falha a memória foi isso. Disseram que o Governo de Mato Grosso tinha comprado todos os jurados. Que era uma fraude. Fiquei muito mal, era uma agenda como muitas outras que eu participava como miss.


Como foi a experiência de participar do Miss Brasil, transmitido pelo SBT e sendo julgada por personalidades famosas na época?


Eu não entendia meu poder de escolha naquela época. Tem meninas que são só pela vaidade, mas eu acredito que toda miss tem uma missão. Decidiam muito por mim, não deixaram eu usar o mesmo vestido que usei no Miss Brasil no Miss Universo, por exemplo, ele ficou mais curto e era um modelo muito comum. Eu quis um vestido amarelo para me destacar e até isso deu polêmica. Além disso, não deixaram eu entrar como boiadeira em determinado momento, que era chapéu e roupa de franja, como uma homenagem ao povo do Pantanal. Eu era muito diferente em tudo, exemplo é, enquanto os cabelos das meninas eram todos picotados na franja, eu já usava fio reto, o mesmo estilo que usam hoje. Eu mantive aquilo que eu acho bonito, antes do Miss Universo eu tive mais liberdade, acho que foi justamente isso que me fez ganhar o Miss Brasil.


Após conquistar o Miss Brasil e participar do Miss Universo, qual caminho você trilhou?


Depois investi ainda mais na minha carreira, posei para mais de trinta capas de revista. Também cheguei a desfilar pela Beija-Flor no Carnaval e trabalhei com Chacrinha e com o Silvio Santos, segui trabalhando.


 



Miss Marcia Gabrielle posa exaltando felicidade


Hoje, quase 35 anos após o concurso, o fato de não ter mais a fama daquela época te incomoda?


Tudo tem seu tempo. Eu posso hoje não estar acontecendo da mesma forma, mas mesmo assim tem coisas que acontecem todos os anos. Fui coroada agora pelo Silvio Santos. Depois de 30 anos sem concorrer em um concurso, quero ver quem são as outras pessoas dessas misses mais recentes que vão ficar em evidência por tanto tempo. Não parei no tempo, tenho que fazer acontecer. Carrego bolsa pra cima e pra baixo. Além disso, não sou só esse título. Tenho uma vida corrida e cheia de trabalhos. Com a família, cuidei do meu pai, que tinha noventa anos, e cuidei até o ultimo suspiro de vida dele. Cuido da minha mãe que vai fazer 80 anos. Em uma época, namorando com um fotógrafo, eu também fazia a produção das fotografias e isso se unia a muita correria. Vida de miss não é moleza, não.


Hoje você ainda acompanha esse universo das misses? O que mudou nesse período?


Não posso opinar nos concursos que não participo, mas o máximo que eu faço os júris estaduais e também os do Silvio Santos, que sei que são íntegros e tem muita seriedade nos concursos. Faço muito júri estadual de alguns concursos. Teve um concurso que fui entregar a coroa em Amazonas, que uma miss arrancou da cabeça da outra e espatifou a coroa de ouro no chão. Até a ficha cair eu achei que era brincadeira ou alguém pressionando para coroar logo ela. Entendo a dor da menina que perdeu, e entendo a não aceitação, mas o júri é soberano e quem ganhou, o momento é dela. Também é real a humildade, porque o esforço é nítido e todas que ganham às vezes mereciam, mas tem que levantar a cabeça, se não à coroa cai mesmo. É um clima sério e de muita competição.


O papel da mulher na sociedade também mudou. Hoje, apesar dos pesares, acredita que as mulheres são mais respeitadas? Isso se deve a que?


Sofri muitos ataques e comentários maldosos. Prefiro classificar que a minha luz incomodava muito pessoas que inventaram coisas ao meu respeito. Sofri muito com sexualização, diziam que saia com pessoas ou algo assim, por ser mulher e estar em eventos ou com pessoas importantes. Nunca precisei de homem para me bancar, é justamente sobre isso que fala o clipe de estrelei e se chama Flor do Deserto. Nesse clipe eu represento muitas mulheres batalhadoras, independentes, que correm atrás. Tudo que conquistei foi com muito trabalho e esforço, tive a simpatia de famílias e amigos essenciais em Mato Grosso, pessoas que sou profundamente grata. Foi só isso. Falaram também, uma época, que fiz até Playboy. Nada contra quem fez, mas eu nunca posei para essa revista. Às vezes era bem chato encontrar as pessoas e elas me falarem que tinham a minha Playboy. Recebi convite deles durante muitos anos para posar, mas nunca posei. É horrível levar a fama sem nunca ter posado, te acusarem de coisas que você também nunca fez. Eu posso sim conquistar as coisas, mesmo sendo mulher. As mulheres hoje em dia se posicionam melhor. Nós queríamos a igualdade e hoje temos mais igualdade, quem sabe o caminho das pedras, seja homem ou mulher, consegue.


Miss Marcia Gabrielle manda recado aos leitores do Rdnews, direto do Rio de Janeiro:


 


O Miss Brasil e concursos similares não reforçam essa ideia de que a mulher precisa ser bela, recatada e do lar?


Depende da miss e da postura dela, tem mulheres que estudam, se formam ou tem alguma mensagem a dizer. Tem outras que querem só a bolsa mais cara, que vivem fazendo milhares de procedimentos para manter a aparência jovem, como um compromisso doentio com a vaidade. Se sair cabelo branco na minha cabeça, vai ter que ser. Se as pessoas quiserem me colocar refém disso, não vão conseguir. Não admito que alguém chegue para mim e tente difamar a minha história. Fui alvo de mentiras e de coisas cruéis por conta do momento que vivíamos, aliás, acho que isso deixou de acontecer nos concursos de beleza para acontecer na política. É uma mentirada danada hoje em dia, mas antes era ainda mais forte isso, porque ninguém tinha celular ou outro meio de buscar a verdade. Hoje, acho até que isso deixou de acontecer no mundo dos concursos para acontecer no meio político. Agora eu também não deixo ninguém tentar destruir minha imagem ou manchar a minha história. Meu refrão é que não faço barraco, mas uma favela inteira.








https://www.rdnews.com.br/entrevista-especial/nunca-precisei-de-um-homem-para-me-bancar-afirma-1-miss-brasil-de-mt-veja/116507


 

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