Miss Mundo com “costela de S. João da Madeira”

06/01/2022

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DANIEL NETO Jan 06, 2022


A final do concurso “Miss Mundo” de 1971, realizada no Royal Albert Hall, em Londres, mereceu da imprensa portuguesa especial atenção. E o caso não era para menos.


Pela primeira vez, a representante de Portugal tinha conquistado um lugar no pódio. Ana Paula Almeida, nascida em Moçambique, ficou em terceiro lugar entre as cinquenta e cinco finalistas que disputaram a coroa e o cetro na capital inglesa.


A revista O Século Ilustrado, de 20 de novembro de 1971 (*), tem, como único título de capa, “MISS” ANA PAULA: A terceira mais bela do Mundo, sobreposto à fotografia de corpo inteiro da representante portuguesa. No interior, a reportagem, assinada por Paulo Figueira, refere: Ana Paula ficou na terceira posição – e dá-se por satisfeita, poderia ter envergado o manto, a coroa e o ceptro da “mais bela do mundo”, mas também desta vez (como já se vai tornando hábito ouvir nas declarações de regresso das nossas “misses”) as maquinações de uma parte do júri impediram mais altos voos (…) Nem tudo se perdeu, porém, para satisfação das pequenas vaidades domésticas: Ana Paula conseguiu arranjar lugar no pódio, e, para cúmulo, “a mais bela de todas” ainda tem uma costela de S. João da Madeira, graças a um avô que há largos anos emigrou para o Brasil.


Lúcia Tavares Petterle, ladeada por Marilyn Ward (Reino Unido) e Ana Paula Almeida (Portugal).
“A mais bela de todas” do concurso de 1971, relegada para segundo plano pela imprensa “cor-de-rosa” nacional, chama-se Lúcia Tavares Petterle e é neta de Silvério Tavares, um sanjoanense que, com apenas 16 anos, fez parte da leva dos seus conterrâneos que demandaram o Brasil, nos finais do século XIX, princípio do século XX, em busca de uma vida melhor. Num interessante exercício de pesquisa genealógica, para a qual contámos com a ajuda preciosa do nosso amigo Carlos Tavares Fernandes, Silvério é o primeiro dos sete filhos de Manuel Henriques Tavares e de Emília Rosa de Jesus e é irmão de Preciosa, Palmira, Olívia, Florentina, Pedro e Ramiro. Estes dois, acabariam por juntar-se ao irmão no Rio de Janeiro, ajudando-o no negócio de cerveja que ali desenvolvia. Preciosa casou com João Fernandes e tiveram quatro filhos: Manuel, Carlos, Isabel e Joaquim Tavares Fernandes (calçado Evereste); Palmira casou com José e tiveram uma única filha, de seu nome Teresa (casada com Edmundo Santos Leite); Olívia é mãe de José, Fernando, Silvério e Manuel (da mercearia Simpatia); Florentina casou com António e dessa relação nasceram Dulce (da mercearia Simpatia), Carlinda (casada com Armando Silva) e Dolores (casada com Vasco Nicolau).


Silvério consorciou-se no Brasil e foi pai de três filhos, dois rapazes e uma rapariga chamada Zoé. Zoé Tavares casou com Alceste Menezes Petterle, um coronel do Rio de Janeiro, e, em 31 de outubro de 1949, foram pais de uma linda menina, a quem deram o nome de Lúcia.


Lúcia Tavares Petterle passou a adolescência na cidade de Santiago, no Rio Grande do Sul, onde seu pai servia um posto militar. De volta ao Rio, começou por participar em concursos de beleza por brincadeira, ao mesmo tempo que estudava medicina, na Universidade Gama Filho. Foi eleita “Miss Tijuca Tênis Club” e foi em representação desta coletividade que disputou e venceu o concurso “Miss Estado da Guanabara”. Representou este estado, entretanto extinto, no concurso “Miss Brasil”, classificando-se em segundo lugar, o que lhe permitiu disputar o “Miss Mundo”, de 1971.


Na final de Londres, naquela que foi uma das mais conturbadas edições do concurso, muito por culpa das manifestações feministas ocorridas no exterior do Royal Albert Hall, a vitória de Lúcia constituiu uma surpresa, já que tudo apontava para que a vencedora fosse a representante inglesa, segunda classificada.


Há quem defenda que a conquista do título se ficou a dever, em boa parte, ao facto de a bela carioca ter afirmado aos jurados que os protestos das feministas não tinham razão de ser. E deu o seu exemplo: Afinal, sou uma estudante de medicina, que fala três línguas, e estou aqui por decisão minha. O que as contestatárias deviam fazer era lutar para que as mulheres pudessem fazer livremente as suas escolhas.


Em dezembro de 1971, Lúcia teve problemas contratuais com a organização do evento, por se ter recusado a passar o fim de ano ao lado dos soldados americanos que se encontravam no Vietname, durante um espetáculo que seria conduzido pelo comediante Bob Hope. Por causa disso, foi-lhe retirado o título de Miss Mundo.


Após esta alucinante aventura, Lúcia Tavares Petterle retomou os estudos em medicina e viajou para França, onde se especializou em neurologia infantil. Atualmente, é pediatra de reconhecido mérito, com consultório próprio no Rio de Janeiro.


(*) Exemplar cedido pelo dr. Joaquim Neves Correia de Pinho.


https://oregional.pt/2022/01/06/miss-mundo-com-costela-de-s-joao-da-madeira/


 

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