MORRE STAEL ABELHA, A MISS DE CARATINGA

31/08/2022

http://www.missnews.com.br/historia/morre-stael-abelha-a-miss-de-caratinga/

480    0

Stael Abelha estampava capas de revista como Miss


31 de Agosto de 2022


CARATINGA- Faleceu aos 82 anos, na manhã desta terça-feira (30), vítima de parada cardíaca, a caratinguense Stael Abelha, que fez história como Miss Brasil em 1961. Stael foi a primeira mineira a receber o título.


Segundo familiares, Stael travava uma longa luta contra o Alzheimer e morava com a filha Maria Augusta em Brasília.


O DIÁRIO traz uma reportagem especial sobre Stael Abelha, a partir de depoimentos de amigos e admiradores. Stael foi lembrada em Caratinga pelo professor Hélio Amaral, que lançou o livro biográfico “Miss Stael” e pelo cartunista Edra, que a homenageou em uma exposição e uma caricatura.


“ERA O ROSTO MAIS BONITO DE TODAS AS MISSES DO BRASIL”


Hélio Amaral destaca a repercussão de Stael, quando revelada para o País como Miss. “Lá no Rio, perguntei para várias pessoas, entrevistei e eles falavam algumas coisas interessantes a respeito dela. Ela é conhecida no Rio de Janeiro, muito. Uma das coisas que me falaram que gravei bem é que Stael Abelha era até baixinha, ela não era muito alta, 1,60 ou 1,65; mas, ela tinha uma característica que ela tinha que ser famosa. Era o rosto mais bonito de todas as misses do Brasil, que já passaram pela nossa história”.


Ele se recorda da relevância do título, já que Miss Brasil era na década de 60 um fato tão importante como ganhar uma Copa do Mundo. “Era um fato extraordinário, todo mundo falava, ela levou nossa cidade para o Brasil inteiro e isso é muito importante, acho até que Caratinga nunca avaliou bem esse fato. Gostaria de lembrar que a Stael Abelha morava numa parte de rua que toda a elite de Caratinga estava presente, ela morava ali onde hoje é o Hotel Vinds. A família dela não era rica, era uma família modesta, era um casarão, mas, modesto. O pai era Álvaro e a mãe Glorinha Abelha e a rua inteira era famosíssima, porque estava ali na esquina o Coronel Rafael Silva Araújo, ao lado da casa da Stael o Leonel Fontoura, dono do jornal O Município e depois, em seguida, você caminhando, ia encontrar um pouco lá em cima o grande estadista de Caratinga, que foi Ludgero Alves. Ela representava a Caratinga do seu esplendor à época”.


O retorno a Caratinga após o concurso se deu na festa da cidade, em 24 de junho. Uma grande comemoração, como relata Amaral. “Me lembro bem de um fato contraditório. A cidade de Caratinga recebeu a Stael Abelha no aeroporto e praticamente a comitiva que foi buscá-la até a cidade estava repleta de gente, inclusive entrevistei o motorista contando que a estrada do aeroporto aquela época até o centro de Caratinga ainda era toda empoeirada, não era asfaltada e a maravilha que foi o desfile de Stael Abelha, ali onde foi o Cine Brasil. Um dos componentes da Polícia, que acompanhou Stael era o marido da Célia Bomfim. Foi maravilhoso. E eu naquela época estava preparando para ir para a Itália, porque os padres me enviaram para estudar na universidade de Roma. 1961 foi um ano brilhante e cheio de história. Foi o ano da renúncia do Jânio Quadros. Para nós hoje falar da Miss Brasil é difícil porque nós não imaginamos o quanto era importante esse evento”.


Mas, Stael largou tudo, quando se apaixonou e renunciou à vida de Miss para se casar, como destaca Hélio. “Ela foi estudar Direito em Vitória, 1961. Na época Caratinga não tinha curso universitário, depois a cidade lutou para fazer uma universidade que chamaria Universidade de Caratinga. E quando ela foi Miss Brasil, em Belo Horizonte, na Pampulha, ela se enamorou pelo Múcio Athayde, um magnata que era deputado estadual de Minas Gerais. A dona Glorinha Abelha, mãe dela, era a favor desse casamento, então, Stael acabou se casando com ele em 1973, lá na Igreja de São José, em Belo Horizonte, um casamento muito bonito e muito político, com personalidades. Depois do casamento ela foi morar no Rio, numa mansão. Quando Stael voltou dos Estados Unidos, onde fez o concurso para Miss Universo, renunciou ao título de Miss Brasil. Ela não perdeu o título, mas, perdeu as regalias e obrigações. Por exemplo, era uma obrigação ela visitar o Brasil inteiro. Se ela não tivesse renunciado, teria passado um ano falando de Caratinga, mas, o amor falou mais alto, ela casou e teve uma história de certa maneira complicada também para Caratinga”.


Anos depois, o professore Hélio Amaral esteve com Stael. Além do livro biográfico ele continuou pesquisando sobre ela. “Encontrei com ela, conversei com ela, tirei fotografia. E a Stael sempre muito dócil, meiga, ela só falava bem da vida. Eu conto essa história no livro Miss Brasil. Escrevi algumas coisas num livro que escrevi durante a pandemia, que eu não pude fazer um lançamento maior, que se chama “O Leste de Minas”. Tenho um capítulo sobre a Stael, conto mais alguma coisa sobre ela”.



Stael Abelha estampava capas de revista como Miss


NOSSA ETERNA MISS BRASIL Caratinga hoje vive um momento de grande tristeza. Morre Stael Abelha, nossa Miss Brasil que encantou o mundo com sua beleza e modos elegantes. Nasceu em Caratinga. Desde bem criança já deslumbrava a todos com sua beleza. Criada com cuidados e muitos mimos pelo pai, Senhor Álvaro e pela mãe, dona Glorinha. A mãe era tão carinhosa com a Stael que não faltaram momentos de colocar em evidência a filha amada, que tinha o apelido carinhoso de Telete. No álbum de família, havia uma foto de Stael saindo do mar. Dona Glorinha escreveu: “Telete e o mar, duas belezas que se confrontam. Telete venceu!” Estudou no Colégio do Carmo por algum tempo, cursando o Científico. Ela pertencia à turma que se formou antes de mim, mas as aulas de religião com Frei Carlos, fazíamos juntas. Tive oportunidade de fazer amizade com ela e conhecer sua delicadeza de trato, sua meiguice. Houve uma festa da Irmã Ludovina em que uma das apresentações chamava-se Feira das Nações. Stael dançava o frevo, eu dancei o Baião de Minas Gerais. Lembro-me da Rosa Bomfim, também linda, representando a França com a música La Mer. Em 1961 eu estudava na Faculdade Santa Úrsula no Rio de Janeiro. Encontrava sempre com Stael e pude presenciar toda a sua atuação no Concurso de Miss Brasil. Dona Glorinha sempre me convidava para almoçar ou lanchar em sua casa. Ficava deslumbrada com o entusiasmo do povo e dos organizadores do concurso com a presença de Stael. Aclamada desde que seu nome figurou como candidata. Até uma loja colocou Stael na vitrine, mas teve de tirar logo porque o namorado, futuro marido, não deixou que ela ficasse muito exposta. Ela venceu o Miss Brasil. Depois do desfile da vitória, ela disse: “Estou com fome. O que mais quero agora é comer um filé com fritas”. E realmente ela realizou seu desejo num restaurante e, no outro dia, saiu nas revistas sua foto saboreando a comida. Foi para os Estados Unidos para disputar o Missa Universo. Mas o boato dava conta do grande ciúme do namorado que acabou prejudicando sua performance. Foi recebida no Brasil com muito júbilo. Em Caratinga, a cidade inteira foi às ruas para aplaudi-la. Só se falava em Stael, a menina de Caratinga. Lembro-me, também, do Monsenhor Rocha, o grande sacerdote benfeitor de Caratinga, que era tio de Stael. Todo mundo pensava que ele fosse contra a participação da sobrinha num concurso de beleza no qual se desfilava de biquini. Para surpresa de todos, ele assistiu a tudo pela televisão e disse que havia gostado muito, afirmando que Stael estava linda. Ela casou-se com Múcio Ataíde, teve filhos. Visitou Caratinga algumas vezes, incluindo a época em que dona Glorinha ganhou o título de Cidadã Honorária de nossa terra. Fui eu que tomei as providências junto à Câmara de Vereadores para a concessão dessa deferência. Tempos depois, Dona Glorinha, no leito de morte foi assistida por Monsenhor Raul. Estive presente naquele instante de dor com Dora Bomfim, ajudando nas orações da Extrema-Unção. Outras vezes, nossa Miss esteve aqui e tive oportunidade de vê-la e assistir missa com ela no Santuário. Hoje, choramos sua partida. Mas ficará para sempre em nós o sucesso dela que tanto elevou Caratinga. Ficará, também, sua primorosa educação que fazia dela uma pessoa especial, hoje inesquecível. Para matar a saudade, vamos lendo o livro com sua biografia, escrito pelo escritor Hélio Amaral que tão bem soube retratar momentos interessantes de sua vida. Que Deus conforte os filhos e familiares. Que ela esteja no céu usufruindo da alegria eterna. Saudades, lembranças, muito carinho. Marilene Godinho



Caricatura publicada no livro “Caratinga de Todos os Dons – de Agnaldo a Ziraldo, os destaques da nossa cultura”



Exposição realizada em 2010 (Foto: Arquivo)



Stael Abelha e Edra (Foto: Arquivo)



Dora Bomfim guarda a boneca que foi de Stael Abelha


BOX: EXPOSIÇÃO E CARICATURA Com muita tristeza recebi a notícia do falecimento da Stael Abelha. Caratinga despede-se de mais uma personalidade de grande destaque sem dar, infelizmente, o seu devido reconhecimento. Quando ela conquistou o título máximo da beleza em nosso país, em 1961, o concurso era de uma imensa repercussão nacional, o Maracanãzinho, palco dos desfiles, recebia um público superior a 50 mil pessoas. Com a sua vitória, ela foi capa das revistas de maior circulação da época. Tive a oportunidade de prestar-lhe homenagens em vida. Na Galeria de fotos dos Caratinguenses Ilustres e em uma exposição fotográfica denominada “Stael Abelha – a nossa eterna Miss Brasil, ambas na Casa Ziraldo de Cultura, em 2009 e 2010, respectivamente. Quando fiz a pesquisa para montar a mostra, já conhecedor de sua encantadora beleza, me encantei com a sua singeleza, tanto nas fotos quanto em suas entrevistas. Mais tarde, em 2017, com esta caricatura que foi publicada junto com sua biografia, no livro “Caratinga de Todos os Dons – de Agnaldo a Ziraldo, os destaques da nossa cultura”. Que ela descanse em paz e Deus conforte toda família. Edra



Namir e Stael durante período em que ela ficou em sua casa (Foto: Arquivo)


A GUARDIÃ DOS PERTENCES DE STAEL ABELHA Dora Bomfim, além de amiga, sempre teve uma tarefa muito importante: guardião dos pertences da Miss Stael. Para se ter uma ideia, ela guarda uma boneca que foi de Stael, que tem 80 anos. Intacta, impecável, que hoje mais do que nunca se torna uma lembra da caratinguense. Dona Dora conta que ela e Stael nasceram no mesmo. “Ela nasceu em 5 de maio de 1940 e eu no final do ano. Então, somos da mesma idade. Ela completou 82 anos. Fomos criadas juntas, eu aqui no 41 na Rua João Pinheiro e ela no 46, onde hoje é o Vind’s Hotel”. As duas amigas foram para a escola juntas. Na estadual Princesa Isabel, fizeram o primário com dona Maria de Figueiredo. Mais tarde, quando foram para o curso ginasial, Stael foi para o Colégio Nossa Senhora das Graças e Dora Bomfim para o Nossa Senhora do Carmo. Já no segundo grau na época, Stael veio para a Escola Nossa Senhora do Carmo, ali formou-se em 8 de dezembro de 1958. “Sempre amigas, saíamos sempre juntas, viajávamos juntas e essa amizade continuou até quando ela conseguiu falar e me telefonar”. Bastante emocionada, dona Dora se recordou como foram os últimos momentos de Stael Abelha, já bastante debilitada. “Há mais de dois anos eu não conversava com ela, apenas colocava o telefone para ela ouvir a minha voz. Stael partiu, é uma grande perda para mim, uma perda irreparável, porque nossa amizade era uma verdadeira amizade. Fui sua confidente durante todos esses anos, aquela amiga que podia contar comigo e eu com ela. Sempre lembrarei porque há pessoas estrelas e há pessoas cometas. O cometa passa, a estrela permanece e ela sempre foi a grande estrela, aquela estrela que pôde levar o nome de Caratinga a todo o mundo, pela sua beleza, bondade, pela grandeza de coração. Mulher religiosa, devota de Nossa Senhora, aquela mulher que preocupava com toda a família”. Quando ganhou o concurso Miss Brasil, no retorno para Caratinga, Stael Abelha dormia na casa de Dora Bomfim. No local, ficavam guardados os tesouros mais preciosos da Miss. “Aqui nós guardávamos a coroa, o Cetro, enfim, os presentes que ela recebeu de quando foi Miss Brasil. Até hoje ainda guardo alguns objetos dela, a Lily Belle, que é a sua bicicleta, fica comigo, porque o filho ainda não veio buscar. E as suas bonecas também eram guardadas comigo. Hoje, ainda guardo a linda boneca que ela tem, porque aqui ela sabia que podia deixar guardada. As joias que ela recebeu durante o concurso ficavam todas comigo, mais tarde, ela me pediu que levasse”. Stael a grande mulher, professora na Escola Estadual Sinfrônio Fernandes. A mãe de família, dedicada, carinhosa, a filha exemplar, como define dona Dora. “Quando ela morava fora, nos Estados Unidos, eu fiquei encarregada de olhar pelos pais dela. E eu cuidei deles até a morte. Hoje tenho muito contato com a filha dela, que passava as notícias e me pedia orações. A Stael foi para mim e para nossa cidade um modelo de moça linda, do coração puro, a moça que vai deixar lembranças para todos nós”. Conforme a grande amiga, Stael Abelha sentia-se orgulhosa em ter sido Miss. “Eu sempre ajudava Stael, quando ela queria sair, quem fazia os penteados dela era eu. Saía aquela moça maravilhosa, que tinha os cabelos lindas. Ela sempre dizia: “Vamos sair para que eu possa ver alguns rapazes da nossa cidade”. Sempre na simplicidade, moça que rezava o terço, religiosa, isso ela sempre continuou”.



Namir hospedou Stael por duas vezes em que ela visitou a cidade e recorda amizade de infância



Hélio Amaral contou a história de Stael Abelha em biografia


A CONVIVÊNCIA COM A MISS Namir Guedes era amiga de infância de Stael. Ela se recorda da amizade que nasceu a partir dos pais dela e de Stael. “Seu Álvaro trouxe meu pai para Caratinga. A situação financeira do meu pai era bem inferior à do seu Álvaro e ele fez com que a Dona Glorinha colocasse todo mundo para estudar, tanto que na minha casa todo mundo é formado, tem faculdade, graças a Deus, a dona Glorinha e senhor Álvaro. Então, a nossa amizade veio daí, dos nossos pais. A gente frequentava muito a casa da dona Glorinha e tinha muita liberdade com a Stael, tanto que ela falava que a gente era irmã dela. Depois que ela se casou, toda vez que ela voltava a Caratinga, a gente tinha acesso a casa dela, da Dona Glorinha e do seu Álvaro”. Após ter ficado viúva, Stael retornou a Caratinga por duas vezes, tendo se hospedado na casa de Namir. “Pude perceber a elegância dela nos trejeitos, nas horas das refeições, dela arrumar para sair, a mobilidade que ela tinha de passar um batom, colocar um lenço, um brinco. E a cordialidade dela com as pessoas, também a humildade, apesar de ser tão linda, de ter conhecido tantos países, tantas escolas que ela tinha para contar, mas, sempre com humildade muito grande. E fazia questão de estar sempre na igreja, recordar as coisas que ela tinha vivido aqui, as pessoas. Foi uma pessoa maravilhosa de conhecer, muito bonita por dentro e por fora”. Namir se recorda dos diálogos e como era estar com Stael. “Ela falava: “Você tem que conhecer a Itália primeiro. A Itália é muito bonita”. Me falava da Grécia, das histórias que ela tinha visto lá fora. Uma pessoa muito simples. E pra mim não era muito difícil recebê-la porque pra mim era uma pessoa comum e foi o tempo todo assim, ficou muito à vontade, tanto que ela voltou. Hoje (ontem) que ela faleceu o filho dela ligou para mim, acho que fui uma das primeiras pessoas a saber, a consideração era muito grande. Ela gostava muito das coisas que eu falava, ela ria muito de mim, me achava muito engraçada. Gostava de sair muito bonita, ir conhecer as pessoas, as pessoas de Caratinga abriram as portas para ela. Ela foi muito bem recebida, tanto que voltou outra vez e gostaria de ter voltado outras vezes”. Nos últimos tempos, o contato com a Miss de Caratinga foi se dificultando devido à doença, mas, Namir não deixou de ter notícias da amiga. “Ela teve um Alzheimer e há muito tempo vem lutando com isso. Já estava bem decadente e para ela foi um descanso. A família lutou muito, a filha dava toda assistência, mas, chega a hora que Deus chama. Ela foi feliz, da maneira dela, na criação dela, ela carregou uma bagagem muito grande de afeto, carinho, educação, amor ao próximo, amor a Deus principalmente”. Para Namir Guedes, ela deixa sua marca não só pela beleza, mas, pelos atos. “O modelo de vida, a simplicidade, a elegância e o respeito que ela teve pelo povo de Caratinga. Isso foi muito bonito”.


https://diariodecaratinga.com.br/morre-stael-abelha-a-miss-de-caratinga/


 

Talvez você se interesse também por:
COMENTÁRIOS - Clique aqui para fazer o seu
Novo comentário
Nome

E-mail (não será mostrado, mas será necessário para você confirmar seu comentário)

Comentário (de 1000 caracteres)
Nota: antes de enviar, certifique-se de que seu comentário não possui ofensas, erros de ortografia ou digitação, pois estará sujeito a avaliação e, também, não poderá ser corrigido.

Seja o primeiro a comentar.

Ⓒ MissesNews.com.br  |  Desenvolvimento: