A crise da Venezuela provoca êxodo de misses, um dos símbolos do país

04/12/2018

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É o caso de Andrea Díaz, que se tornou Miss Chile em agosto e representará no Miss Universo o país que a acolhe


Ariel Palacios  04/12/2018 - 11:04 / 04/12/2018 - 11:23


Andrea Díaz, Miss Chile 2018, nascida na Venezuela, parte para o Miss Universo, na Tailândia Foto: Instagram / Reprodução


A ONU calcula que 3,2 milhões de venezuelanos partiram em êxodo nos últimos três anos devido à crise econômica sem precedentes que assola seu país natal. A hiperinflação prevista para este ano supera 1.000.000% e atinge 10.000.000% para o ano que vem — seja lá o que isso represente. A pobreza abarca 85% da população. Cálculos das principais universidades de Caracas indicam um volume maior de emigrados do que o índice oficial. Sustentam que, desde 2001, dois anos após a chegada do então presidente Hugo Chávez ao poder, teriam partido do país 4 milhões de pessoas. Entre os emigrantes estão as misses, venezuelanas que integram o sistema dos tradicionais concursos de beleza — uma marca da sociedade do país há mais de meio século.


Com sete coroas de Miss Universo e seis títulos de Miss Mundo, o país está no pódio mundial de misses, superado apenas pelos Estados Unidos. Com o petróleo, elas foram um dos emblemas do país durante décadas e até se confundiam com ele — muitos navios petroleiros ostentavam nomes de ex-participantes. Os concursos de beleza sempre bateram os maiores índices de audiência dos canais de TV da Venezuela. O chavismo, em vez de considerá-los um “símbolo da decadência burguesa”, os incentivou, alegando que a beleza das venezuelanas era revolucionária.



Nascida na Venezuela, Andrea Díaz tornou-se Miss Chile e virou símbolo das emigrantes dos concursos mundiais de beleza Foto: FOTO: @LUIGIPATTI / MAQUIAGEM: @HECTOR_SANCHEZL / ACESSÓRIOS: @YOELACCESORIOS / ILUMINAÇÃO: @RODRIGOMATUSP / VESTIDO: @ALEXS_CASTILLO / ASSISTENTE: @BEITATRIX / Agência O Globo


Essas jovens agora tentam encontrar um nicho de mercado no exterior. É o caso de Andrea Díaz, que desde seus 12 anos de idade participa de concursos de beleza. Ela migrou para o Chile, em agosto tornou-se Miss Chile e — com um intenso sotaque venezuelano — representará no Miss Universo o país que a acolheu. A nova Miss Chile reside na capital, Santiago, desde 2015 e disputou o trono com outra “vene-chilena”, como estão sendo chamados os 130 mil venezuelanos instalados naquele país.


Andrea Díaz, em sintonia com os tempos globalizados, argumenta que ela representa um “novo Chile”, um país formado por imigrantes de todo o planeta. “Sou uma cidadã do mundo”, afirmou ela, ao elogiar o país por ser “multicultural”.


Outro exemplo é Jessica Russo, que há algum tempo foi miss pelo estado venezuelano de Aragua, mas neste ano participou nas Filipinas do Miss Earth representando o Peru, país onde residem mais de 400 mil venezuelanos da diáspora. Nesse concurso, outra venezuelana, Francelis Carolina Jane, representou a Espanha. “Minhas raízes estavam aqui em Madri”, argumentou. Carla Rodrígues de Flaviis, eleita Miss Portugal, concorreu pelo estado de Lara no Miss Venezuela em 2011.


Giselle Reyes, que comanda quatro escolas de modelos na Venezuela conhecidas como “as universidades da beleza”, afirmou que 70% das modelos que se formaram ali já deixaram o país. Das 24 participantes do Miss Venezuela 2015, 17 estão trabalhando no exterior, em lugares tão diferentes como o México e a Colômbia.


A tendência é que o êxodo de misses venezuelanas continue nos próximos tempos, já que o cenário econômico do país — que acumula cinco anos de retração nos índices que medem a produção de bens — deve piorar. O desemprego deve atingir 40% da população no ano que vem.


Uma pesquisa do instituto Consultores 21 apontou que 39% dos venezuelanos que desejam migrar não sabem onde conseguirão dinheiro para a empreitada. Outros 47% sustentam que migrarão com a ajuda de um parente já instalado fora do país. Apenas 12% afirmam que conseguirão economizar dinheiro para partir.


A violência é outro fator que está afugentando as misses. O caso exemplar ocorreu em 2014, quando a ex-Miss Venezuela Mónica Spear e seu marido Thomas Berry foram assassinados em uma estrada.


O casal e a filha de 5 anos viajavam de férias para uma região praiana. O carro da família sofreu uma pane, e eles foram atacados por criminosos enquanto esperavam o reboque. A criança, ferida, foi a única sobrevivente.


A indústria da beleza no país foi duramente abalada neste ano com a eclosão de um escândalo de prostituição e de compra de votos de jurados. A revelação provocou a suspensão temporária do concurso de Miss Venezuela. De acordo com as denúncias, lideranças do regime chavista ofereciam sua influência para manipular os resultados dos concursos em troca de sexo com as misses.


O setor também sofre com o desabastecimento de silicone para cirurgias plásticas, elemento crucial para turbinar as curvas das aspirantes a miss. Ou, como dizia a personagem Perla a sua filha Estefanía no filme venezuelano Três belezas , uma ácida sátira sobre a obsessão dos venezuelanos com os concursos de beleza: “Por acaso você não sabe que uma flor de plástico jamais murcha?”.


https://epoca.globo.com/a-crise-da-venezuela-provoca-exodo-de-misses-um-dos-simbolos-do-pais-23265938


 

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