Antes de ser Miss Piauí 2018, Naiely sobrevivia com R$ 150 por mês em SP

08/05/2018

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Para poupar dinheiro, Naiely passava alguns dias na casa dos amigos, pois não queria ligar para a mãe para pedir ao menos R$ 20,00 para pagar a passagem do ônibus


07/05/2018 - Atualizado em: 08/05/2018, 12:55


Repórter: Edrian Santos


Uma semana após ser coroada Miss Piauí 2018, Naiely Lima agracia a redação do OitoMeia para uma entrevista exclusiva. Natural de Piripiri, mas teresinense de coração, a ex-jogadora e tricampeã de basquete fala sobre situações conflitantes ao longo dos 18 anos de vida, sobretudo a respeito das superações dos últimos dois anos em que trabalhou como modelo entre seu estado natal e São Paulo. A entrevista foi concedida no dia 04 de maio e também traz um pouco do que ela levará ao Miss Brasil 2018, na cidade do Rio de Janeiro.


De alguma forma, a luta diária do povo piauiense será retratada no Miss Brasil por Naiely Lima, Miss Piauí 2018 (Foto: Nataniel Lima/OitoMeia)


Pelo que foi relatado por Naiely, a história dela se repete em meio a tantos outros piauienses. A pobreza na contramão da busca por uma vida melhor dita a realidade da Miss Piauí 2018. Na família Lima, quem imaginou que a menina alta, magrela e desengonçada receberia o título de mulher mais bonita do estado? Mas, antes disso, ela teria que sobreviver na maior cidade da América Latina com apenas R$ 150,00 mensais, depositados pelo pai.


Para poupar dinheiro, Naiely passava alguns dias na casa dos amigos, pois não queria ligar para a mãe para pedir ao menos R$ 20,00 para pagar a passagem do ônibus. Vergonha do “fracasso”? De jeito nenhum, mas sim uma maneira de não comprometer a situação financeira da família, cuja mãe e madrinha, de quem veio a criação, ainda estão desempregadas. O que esperar dela no Miss Brasil 2018? De alguma forma, a luta diária do povo piauiense será retratada na etapa nacional deste concurso de beleza.


Leia a primeira parte da entrevista com Naiely Lima, Miss Piauí 2018:


Você foi bailarina, atleta e ganhou troféus como jogadora de basquete. Quando surgiu o interesse em ser miss?


Miss Piauí 2018: Eu comecei a minha trajetória jogando basquete e, do nada, veio o convite para eu ser modelo. A princípio, eu não queria. Eu queria continuar jogando, pois eu era a capitã do time. Só que a minha mãe falou para eu tentar, já que eu não precisava parar uma coisa para fazer a outra e aí eu fui. As coisas aconteceram de forma muito rápida. Quanto ao mundo miss, eu participei de uma gincana, na escola, e saiu um vídeo meu e ele foi um sucesso. Na época, eu não tinha idade para participar do concurso, mas surgiu um convite para eu participar em 2017.


Só que a imagem que temos construída de miss, que muita gente tem, aliás, porque eu já desconstruí isso, é que é só um rostinho bonito, muita futilidade, sem entender realmente o papel de uma miss, que é mais que aquilo. Você tem que ter um conjunto. Tem que ser inteligente, dedicada, ter foco e saber que você vai representar outras pessoas, outras mulheres. Acima de tudo, você tem que ser você, não pode montar um personagem para isso. Aliás, até pode, mas tem que saber interpretar muito bem. Se você não souber, uma hora a máscara cai e é pior.


Eu comecei a minha trajetória jogando basquete e, do nada, veio o convite para eu ser modelo. A princípio, eu não queria. Eu queria continuar jogando, pois eu era a capitã do time


Quais as tuas experiências, enquanto modelo?


Miss Piauí 2018: Eu comecei a modelar em Teresina e aí eu fiz um material muito bom aqui. Esse material foi enviado para São Paulo. Só que eu não queria ir para São Paulo, porque eu era atleta, então eu tinha muito corpo. Para eu ir para São Paulo, eu teria que emagrecer. Se eu restringisse a minha alimentação para emagrecer, eu não estaria boa no basquete por conta da energia que o corpo precisa. Só que aí, veio uma proposta para Milão, mas eu teria que ter uma medida mínima. Uns agentes de São Paulo, então, pediram para me ver. Juntei essas duas informações de que alguém grande da moda queria me ver e esse convite. Então decidi emagrecer e levar o esporte junto.



Naiely Lima é acadêmica de Direito e jogou basquete no time do Instituto Federal do Piauí (Ifpi) (Foto: Reprodução Instagram/Montagem OitoMeia)


Chegou a hora em que eu estava envolvida demais no mundo da moda e tive que parar de jogar, no final de 2016, para ir para São Paulo, em 2017. Em novembro de 2016, eu fui a São Paulo fazer testes e fui a única modelo aprovada em cinco agências, das seis. Como a minha mãe e a minha madrinha, que me criava na época, estavam desempregadas, eu vi uma oportunidade de diminuir os gastos delas e, quem sabe, trabalhar mais para ajudar. Então decidi ir para São Paulo, pois assim não dou despesas para a minha mãe e lá me acho como modelo, mas não foi fácil.


Eu passei um ano bem difícil, em São Paulo. No primeiro semestre, mais ainda. Se você não souber se impor, o mercado te engole. Eu cheguei a casa com 15 meninas do Sul. Eu era a engraçada, com a pele mais escurinha, do Nordeste, que falava rápido. Ninguém queria me levar a sério, olhavam-me torto. Só que eu sempre bati o pé e nunca deixei ninguém levantar a voz. Eu dizia “Você não é melhor do que eu, então cada um no seu lugar”. Seis, sete meses depois, as pessoas que me olharam torto se tornaram as minhas melhores amigas, em São Paulo. Isso porque eu assumi muito o que eu era e de onde eu era.


Eu era a engraçada, com a pele mais escurinha, do Nordeste, que falava rápido. Ninguém queria me levar a sério, olhavam-me torto


Como você contornou os problemas financeiros em São Paulo?


Miss Piauí 2018: Em São Paulo, você tem que criar um nome para começar a trabalhar e eu não conseguia. Eu já tinha emagrecido bastante, mas, quando eu cheguei para me apresentar à temporada de moda, eu parecia muito com outra modelo da agência e então eles me comparavam muito. Só que essa outra modelo já tem nome, tinha feito semanas internacionais de moda. O retorno que eu tinha não era de que eles a preferiam, mas sim porque eu estava fora de medida. Então, para quem era atleta, emagreceu 15 kg, chegar lá e eles dizerem que eu não estava boa o suficiente me deixou mal.


Eu não trabalhei tanto no primeiro semestre. Eu tive distrações, na verdade. Teve uma hora que me questionei se eu estava fazendo o certo. Eu não podia ligar a minha mãe para pedir R$ 20,00 para pegar um ônibus. Eu não fazia isso. Meu pai, na época, depositava R$ 150,00 para mim. Então eu dava um jeito de viver com R$ 150,00 por mês. Eu fazia aquele famoso milagre. Não era fácil e eu me sentia um ser impotente, incapaz de não ter um dinheiro e juntar para a minha mãe. Eu tinha isso muito na minha cabeça. Em julho, eu vim para Teresina, vi a minha mãe, fiquei recarregada. Voltei para São Paulo. Só que eu tinha conhecido uma pessoa, que é um amigo muito importante e que me integrou em São Paulo.


Ele me apresentou pessoas, mostrou uma agência. Nessa outra agência, eu disse que o meu manequim é 38, que eu tinha 18 anos, que saí de casa aos 17 anos e que precisava trabalhar. Descasquei! Quando virei para calçar meu sapato, imaginei que não iriam me aceitar. Foi aí que dissera: “Naiely, você está aprovada. Preenche lá a tua ficha”. Foi quando eu comecei a me aceitar, bater o pé, eu comecei a fazer mais trabalhos, contatos. Passei por muito perrengue, realmente. Eu chegava à casa de um amigo e dizia: “Oi! Tudo bem? Vim te ver”. O tempo passava e diziam que já era noite. “Nossa, é verdade. Eu posso dormir aqui hoje?”. Eles respondiam que sim e eu ficava uma semana lá. Era menos gasto. São pessoas que me ajudaram muito.


Meu pai, na época, depositava R$ 150,00 para mim. Então eu dava um jeito de viver com R$ 150,00 por mês. Eu fazia aquele famoso milagre


Você tem alguma história de superação? Qual ou quais?


Miss Piauí 2018: A minha primeira superação foi ter saído de Capitão de Campos e vir para a capital. Depois, uma menina de 17 anos ir para São Paulo e se jogar num mundo que você não conhece, passar por tudo o que eu passei lá. Eu poderia ter ido para caminhos que não fossem certos e ter uma vida boa, mas preferi batalhar e suar. Passei por situações por ser nordestina, falavam para eu perder o sotaque. Não só São Paulo, mas toda a minha trajetória de ter uma família simples, mas mesmo assim continuar lutando. Eu sempre corri atrás do que eu quero. Ouço muitas críticas, ainda mais agora que sou miss e me tornei uma pessoa pública. Mas eu vou tirando o que é bom e isso vai me acrescentar como pessoa. Isso tudo, para mim, é superação.


Eu poderia ter ido para caminhos que não fossem certos e ter uma vida boa, mas preferi batalhar e suar


Você já foi vítima de bullying na infância e/ou adolescência?


Miss Piauí 2018: Já, sim! Eu era muito magra e sempre fui muito alta, em comparação às pessoas da minha idade. Nisso, eu fazia balé. Eu era meio desengonçada, realmente. Daí, comecei a jogar basquete. Quando eu comecei a jogar basquete, eu ganhei mais corpo. Então, eu me sentia melhor. Hoje, eu me aceito muito e bato o pé. Tem muita gente que fala que eu tenho que perder quadril, etc. Gente, eu sou maravilhosa, do jeito que eu sou. Eu me adoro desse jeito. Têm padrões, realmente, que pedem para sermos de outra forma, mas vou até o ponto em que a minha saúde estiver boa.


Gente, eu sou maravilhosa, do jeito que eu sou. Eu me adoro desse jeito


Como você lida com as críticas negativas sobre a tua vitória no Miss Piauí?


Miss Piauí 2018: Vai vir muita crítica e, se eu for me deixar abater, eu vou mudar o meu foco. “Naiely, a tua passarela está ruim”. Vamos analisar a minha passarela? E eu vou corrigir. “Naiely, você não era a mais bonita”. O que é beleza para você? O conceito de beleza é amplo e o que pode ser bonito para mim pode não ser para você.



Com inglês intermediário avançado, Naiely Lima vai representar o Piauí no Miss Brasil 2018 (Foto: Édrian Santos/OitoMeia)


Concurso de miss deixou de ser só um rostinho bonito. Você não tem que ser só bonita, mas tem que ter um bom conjunto para apresentar. E eu trabalhei o meu conjunto. Eu falo inglês, eu trabalho a minha oratória, eu trabalhei a minha passarela, eu trabalhei o meu corpo, a minha mente, o meu espírito. Vão falar que a outra candidata era melhor que eu e não posso falar o contrário. Cabem aos jurados. Eu procuro não me apegar às coisas ruins.


Eu falo inglês, eu trabalho a minha oratória, eu trabalhei a minha passarela, eu trabalhei o meu corpo, a minha mente, o meu espírito


Levar a garra e o sangue do piauiense para o Miss Brasil 2018 foi a tua promessa. Como você pretende fazer isso?


Miss Piauí 2018: A coisa não é fácil. Eu sempre bati o pé. Sou do Piauí, sou nordestina. Não tenho nada fácil na vida. E eu vou continuar fazendo isso lá. Eu sou muito firme no que faço. Se é sim, é sim. Se é não, é não. Eu vou continuar sendo eu. Não é porque a faixa de outro estado pesa mais que eu vou baixar a cabeça. De forma alguma! O povo piauiense é um povo que luta pelo que quer e eles não têm facilidade de conseguir nada. Tudo bem! Pode mandar o trabalho difícil para mim, que será bem feito também.


O povo piauiense é um povo que luta pelo que quer e eles não têm facilidade de conseguir nada


BIOGRAFIA


Naiely Lima nasceu em Piripiri e morou em Capitão de Campos, cidades distantes cerca de 160 km ao Norte de Teresina. Aos oito anos, mudou-se para a capital, onde passou parte da vida na casa da madrinha. A jovem estudante de Direito jogou basquete no time do Instituto Federal do Piauí (Ifpi) e foi bailarina. Antes da coroação, a Miss Piauí 2018 modelou no Piauí e em São Paulo. Agora, segue na preparação para o Miss Brasil 2018. Será que ela vai manter o mesmo nível da Monalysa Alcântara?


 


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