01/06/2021
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Mesmo fora das finais de concurso de beleza, Alina Akselrad chama atenção ao vestir uniforme alviceleste de cristais e lembrar de ídolo com histórico de violência contra mulher
Por Raphael Sibila — Buenos Aires, Argentina 30/05/2021 14h28
Quando surgiu a ideia de levar uma bola para a passarela do Miss Universo 2021, a cordobesa Alina Akselrad, apesar de não ter tanta intimidade com a bola, aceitou sem pensar duas vezes.
- Eu não jogava futebol. Na minha família, somos todas mulheres. Somos em três irmãs. Sempre morei com minha mãe. Então, bola, não tinha lá em casa. Mas a ideia era a de levar o futebol a um ambiente diferente, mostrar que nós mulheres também jogamos. Que não somos vistas só com saltos altos e vestidos.
Alina Akselrad abre reprodução de camisa da seleção da Argentina e mostra outra com o rosto de Maradona no concurso de Miss Universo, em 13 de maio — Foto: Rodrigo Varela/Getty Images/AFP
Alina Akselrad abre reprodução de camisa da seleção da Argentina e mostra outra com o rosto de Maradona no concurso de Miss Universo, em 13 de maio — Foto: Rodrigo Varela/Getty Images/AFP
Claro que o uniforme não poderia ser apenas um uniforme. Com incontáveis cristais, a celeste e branca argentina brilhava e pesava. O calção também estava todo bordado com pedras preciosas.
- Era tão pesado que eu tinha medo que ele caísse.
E quando a mestre de cerimônias chamou a Miss Argentina a passarela, Alina Akselrad surpreendeu até mesmo o seu coreógrafo.
- A princípio o meu diretor de coreografia não sabia que eu ia jogar em cima da passarela. Ele me disse: "Você entra, pisa na bola, abre a camisa e pronto". Mas no ensaio prévio eu disse: "Por que não arrisco um pouquinho e entro com a bola nos pés? Se por um acaso a bola escapa e vai embora, abro um sorriso e pronto.
Mas deu tudo certo, e isso mesmo a bola sendo toda irregular.
- A bola estava toda rodeada de cristais, não rolava como uma bola comum.
Entrar vestida com o uniforme da seleção argentina no Miss Universo foi a ideia que a equipe de Alina teve para representar a Argentina.
- Queríamos unir a Argentina em algo que nos apaixona e que une o país. Quando joga a seleção, é um dos poucos momentos em que as 23 províncias estão unidas para comemorar o mesmo gol.
O evento foi em 16 de maio, nove dias antes de completar seis meses da morte de Maradona. Foi, então, que outra ideia surgiu. Por que não aproveitar a proximidade da data e homenagear também o maior ídolo argentino?
Por baixo da camisa da Argentina, outra com a foto de Maradona. O uniforme coberto de cristais estava fechado por velcro. Ao parar a bola e encarar o público, o grande momento. O de abrir a camisa e mostrar ao mundo a foto de Diego.
- Senti muitas emoções. Primeiro de ouvir os gritos do público, depois de saber que o jurado estava analisando a apresentação. Também sabia que muita gente na Argentina estava com a expectativa para ver o que aconteceria. Então, tinha adrenalina, muitas emoções também.
A homenagem ao ídolo que morreu no dia 25 de novembro do ano passado, por uma parada cardiorrespiratória, ganhou as manchetes da imprensa argentina.
- Minha mãe me disse: "Ali, se você queria ser destaque na imprensa argentina, através do Diego você está em todos os veículos. Alguns te amam, outros te odeiam, mas você tranquila filha, que o importante é que te conhecem”.
Mas, como sempre, tudo que envolve Maradona gera polêmica. E a homenagem na passarela do Miss Universo gerou muitas reações nas redes sociais.
- O que mais se falava, e foi algo que, sim, me afetou, foi o fato de que hoje o Miss Universo trata muito do empoderamento feminino. E eu, desde muito tempo, levanto a bandeira contra a violência de gênero em defesa das mulheres.
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Mas começaram a falar de hipocrisia, já que eu estava vestindo a camisa de uma pessoa que em sua vida pessoal teve casos de violência de gênero e que não foi exemplo como pai, em um evento que se fala do empoderamento da mulher"
— Alina Akselrad, Miss Argentina
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- A ideia era a união, celebrar a paixão pelo futebol. Mas houve o debate, algo que caracteriza muito os argentinos, debater e discutir por tudo. Então, isso foi o argentinismo em sua máxima expressão.
Alina não se classificou para a final do Miss Universo. A mexicana Andrea Meza ficou com a coroa este ano. A Miss Argentina segue com uma extensa agenda de eventos pelos Estados Unidos com outros planos traçados. Aos 22 anos, ela se formou em comunicação em Córdoba, sua cidade natal. O objetivo agora é deixar de ser notícia para trabalhar com notícia.
- Eu ainda não tive a oportunidade de exercer profissionalmente a minha profissão. Já trabalhei em rádio, em alguns programas televisivos. Mas agora gostaria de focar mesmo na minha carreira.