Um golpe no Miss Venezuela

17/12/2017

http://www.missnews.com.br/noticias/um-golpe-no-miss-venezuela/

1838    0

17 dez 2017 O Globo MARINA GONÇALVES


Crise econômica atinge em cheio concurso de beleza, que passa a ter edição modesta para manter viva no país tradição que mobiliza espectadores e jovens em busca de projeção


Na Venezuela, ser miss é coisa séria. As vencedoras do concurso nacional já levaram sete coroas no Miss Universo, seis de Miss Mundo e mais seis de Miss Internacional, além de outros títulos de relevância mundial, e se transformaram em atrizes, apresentadoras e até políticas. Não por acaso, o maior espetáculo do país foi, durante anos, transmitido ao vivo do Poliedro de Caracas, um estádio utilizado para grandes eventos esportivos e de entretenimento, com capacidade para receber 13 mil pessoas que assistiam, além da escolha, a shows de bandas internacionais, com direito a bailarinas e dezenas de trocas de cenários. Com a crise que assola o país, no entanto, a publicidade caiu, trocando a pompa do passado por uma edição modesta, em outubro, para cerca de 100 espectadores, em um estúdio de televisão.


Entre as finalistas. A vencedora nacional deste ano, Keysi Sayago (de branco), figurou entre as primeiras no Miss Universo: sete vitórias mundiais


— A magia do Miss Venezuela precisa de orçamento! Existe uma crise política, econômica e social que não tem mais como ser escondida e se vê refletida em todos os nossos eventos e, claro, também na televisão. É lamentável ver que, assim como nosso país vai se deteriorando, também vão nossos valores e nossas referências, em todas as áreas, arrasando nossos ícones — afirmou ao GLOBO Maite Delgado, atriz, apresentadora e ex-modelo, que ficou em segundo lugar em 1986, no auge do concurso.


No fim de julho, a hashtag #MissVenezuela foi uma das principais tendências no Twitter, com boatos sobre uma possível saída do país do Miss Universo. Um mês depois, várias ex-misses recentes entraram no debate, num momento de forte polarização política. Nomes famosos nas décadas de 1970 e 80, como Maritza Pineda Montoya, Mariángel Ruiz e Helena Merlin, sentem os efeitos da crise, vivendo às voltas com buscas insanas por remédios nas farmácias desabastecidas, ou se viram para se alimentar com o pouco que recebem na aposentadoria.


Para Maite, que de 1997 a 2000 foi apresentadora oficial do Miss Venezuela, apesar de tudo, o show tem que continuar.


— Quando alguém falava da Venezuela, lembrava do petróleo, das novelas, do beisebol e das misses. O concurso é e será sempre parte de nossa cultura popular e uma grande referência para outros eventos do tipo no país e no mundo. Com ou sem crise, ele está em nosso DNA.


O evento foi criado em 1952 pela extinta companhia aérea Panam. No mesmo ano, o então diretor do concurso, o empresário e escritor Ignacio Font Coll, assinou o primeiro acordo para sua transmissão televisiva com a RCTV — o que, desde 1972, é feito pela Venevisión. Em 1968, Coll contratou Osmel Sousa para ser um de seus assistentes na direção artística do Miss Venezuela quem, depois de sua morte, transformou-se no presidente e grande nome da organização. Com a consolidação do formato e as primeiras vitórias no Miss Universo, a Venevisión passaria a produzir também versões condensadas da transmissão oficial — que chegava a quatro horas de duração — para exibição no mercado externo. Nos EUA, o concurso ia ao ar em emissoras pagas hispânicas com poucos dias de atraso. O jornalista Roland Carreño, que foi relações públicas do concurso, concorda que a crise afeta o evento em todos os sentidos, e “reflete a tragédia da revolução chavista nos últimos 17 anos”. — O Miss Venezuela já foi o programa mais visto da TV, com mais anúncios publicitários e no maior teatro do país. Nos últimos quatro anos, passou a ser realizado num estúdio de TV — explicou ao GLOBO, comparando o concurso ao carnaval. — Era um show de proporções apoteóticas, com bailarinas, mudanças de cenário e atrações internacionais.


De fato, o Miss Venezuela já não acontece no Poliedro de Caracas e tampouco conta com astros da canção latina. Apesar disso, a vencedora deste ano, Keysi Sayago, terminou entre as cinco primeiras finalistas no Miss Universo, há três semanas, indicando que, simbolicamente, o concurso ainda tem força e reconhecimento internacional.


CULTURA ENRAIZADA


O interesse dos venezuelanos também permanece intacto. Mesmo menor, a final é, até hoje, um megaespetáculo televisivo de importância similar ou superior, pelo menos no mercado doméstico, a eventos de grande porte como a entrega anual do Oscar ou a final da Copa do Mundo.


— São 65 anos de História e, simbolicamente, é um concurso enraizado na nossa cultura e no imaginário popular — afirmou Carreño. — Principalmente entre as jovens de regiões mais carentes, é uma oportunidade de chegar à TV. E a tradição persiste, apesar de tudo. Temos uma equipe muito profissional que já trabalha nas preliminares do Miss 2018. É um bálsamo para curar as feridas da alma venezuelana.


Procurada, a organização do concurso não respondeu as perguntas para a reportagem.


https://oglobo.globo.com/mundo/crise-economica-atinge-em-cheio-concurso-miss-venezuela-22201938


 


 

Talvez você se interesse também por:
COMENTÁRIOS - Clique aqui para fazer o seu
Novo comentário
Nome

E-mail (não será mostrado, mas será necessário para você confirmar seu comentário)

Comentário (de 1000 caracteres)
Nota: antes de enviar, certifique-se de que seu comentário não possui ofensas, erros de ortografia ou digitação, pois estará sujeito a avaliação e, também, não poderá ser corrigido.

Seja o primeiro a comentar.

Ⓒ MissesNews.com.br  |  Desenvolvimento: